802: LÁ, NUNCA FUI

Por AMÉRICO TEIXEIRA JUNIOR

Eu nunca fui ao 802. Oportunidades e convites não faltaram, mas nunca visitei o conjunto 802 da Paulista, 807.

Mas você, leitor, não tem no seu coração aquele lugar que, embora nunca tenha lá estado, é como se pudesse chamá-lo de seu?

Muita gente nunca foi a Monza, por exemplo, mas é como se lá vivesse, tamanha é a familiaridade com todo e qualquer pedacinho do circuito, sua estrutura, história e magia. O conjunto 802 se encaixa, para mim, nesse caso.

O café da máquina às vezes quebrada, de fato, nunca o tomei. Também nunca me sentei naquela cadeira amarela esquisita e nem toquei nas miniaturas de carros soviéticos que predominavam na prateleira em meio aos troféus do Flavio.

Não, nada disso aconteceu.

Apesar disso, mesmo distante, mas em função da imensa parceria profissional e afetiva, conheci cada ponto do escritório de uma maneira muito particular e, quem sabe, numa intensidade que nem todos os que lá estiveram puderam sentir.

Senti a emoção de cada furo de reportagem produzido pela equipe, compartilhei investigações, angustiei-me com dificuldades, sugeri soluções, critiquei conteúdo, recebi encorajamento, fui alvo de demonstrações de amizade que só as lágrimas podem traduzir, ajudei no que pude, atrapalhei sem querer e muito, muito mais.

Enfim, vivi muitas das emoções que transbordavam daquele espaço de 28 metros quadrados e me atingiam, como uma onda, onde quer que eu estivesse.

Sim, nunca estive no 802, mas é como se sempre lá estivesse estado. Não sei se me faço entender, mas é assim que sinto.

Não, não cometerei o mesmo erro. Assim que possível, e logo,visitarei o novo endereço. Um local privilegiado, sem dúvida. Afinal, quem tem o privilégio de trabalhar em pleno museu de carros históricos?

No Lada Laika branco eu já andei. Quem sabe o Flavio não me leva para dar uma voltinha no Trabant azul claro?

americo802* Convite feito. Américo Teixeira Junior, sem exageros, é um dos maiores e mais éticos jornalistas que conheci na vida. Tê-lo como parceiro é uma honra — e uma chance de receber aulas diárias do ofício. Texto brilhante, apurações rigorosas, princípios imutáveis… Se um dia me perguntassem quem eu gostaria de ser quando crescesse, acho que diria que queria ser o Américo. Pena que já cresci.

OK, não muito.



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