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SÃO PAULO (como sempre teve) – A fanfarronice de Bernie Ecclestone, que semana passada resolveu, na falta de outro assunto, dizer que o GP do Brasil estava ameaçado, levou a organização da corrida a convocar uma coletiva hoje cedo. Lá no autódromo, o que foi bom para que as pessoas pudessem ver como estão as obras. A torre já foi. Nunca mais vou precisar subir aquela escadaria dos infernos para os briefings. Alvíssaras! Agora, a pauleira é para terminar a reforma dos boxes. Espero que fique legal.

Vai ter GP em Interlagos, claro. E não é só por causa da palavra do promotor, Tamas Rohonyi. É um contrato que vem sendo cumprido, que não pode ser quebrado assim, sem mais nem menos. Bernie pode estrilar quanto quiser, se achar que tem de levar mais dinheiro. Está assinado. As partes respeitando o que lhes cabe, acabou. Punto, basta.

Tamas aproveitou o ensejo para expor sua, hum…, inveja das corridas que têm o apoio de governos mundo afora — e são muitas hoje, quase todas, e é por isso que a F-1 atualmente corre em qualquer lugar, não interessando se o país tem tradição, se o público gosta, se seus dirigentes respeitam direitos humanos, se é governado por ditadores, porra nenhuma; tem grana, e tem quem pague o que Bernie quer, corre-se até no inferno.

Aí, lamento, discordo do organizador da prova. O GP é um evento particular. A cidade faz sua parte cedendo o autódromo e, inclusive, reformando pista e instalações todos os anos, para atender às exigências da FIA. Já é muito. Quem tem de viabilizar tudo comercialmente é o dono do espetáculo. Se não é assim fora do Brasil, azar das populações desses países — que pagam a conta da diversão de poucos, inclusive em nações que têm claros problemas de desigualdade social, como Bahrein, Índia e Turquia.

Tamas argumenta, com razão, que os custos de um GP são altíssimos e insinua que, com essa escalada de valores, daqui a pouco só será possível fazer uma corrida em países cujos governos banquem a brincadeira. É possível.

Mas, se for assim, que a prova saia do Brasil. Este país tem coisa muito mais importante na sua lista de prioridades para resolver. Entendo a aflição de quem, há décadas, faz o GP suando sangue. Mas é assim. Há uma corrente de pensamento/comportamento no Brasil que prega que a iniciativa privada tem solução para tudo, é o verdadeiro motor do desenvolvimento e da prosperidade, que o deus Mercado tudo resolve e controla. Gente que prega o Estado mínimo e acha que governos só atrapalham — a emissora que, na prática, é dona da corrida tem essa linha de pensamento, inclusive.

Que se virem, pois. E, diga-se, os promotores têm se virado muito bem nos últimos anos. O GP do Brasil já tem um tempão que é um evento exemplar, considerando as limitações óbvias das instalações, da estrutura, da cidade e, em última análise, do país. As corridas são boas, porque a pista, mesmo mutilada em relação ao traçado original, ainda é boa e tem um jeitão “old fashion”. E todo mundo adora.

No mais concordo com tudo que diz o Tamas. Especialmente quando ele afirma que a maioria dos GPs, hoje, é menos corrida e mais “show business”. Pistas antigas como Interlagos, Spa e Silverstone resistem. No caso das novas, se desaparecerem do mapa não farão falta. A maioria delas.



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