SÃO PAULO (parabéns por tudo) – Foi melhor para Felipe Massa bater onde bateu do que terminar a corrida em décimo, oitavo, sei lá. O abandono na volta 47, depois de beliscar uma zebra interna na subida do Café, balançar e aquaplanar, largou o piloto diante das arquibancadas que, nos últimos 15 anos, se acostumaram a vê-lo na labuta pela Sauber, depois Ferrari, por fim Williams.
E foi ele o responsável pelas últimas grandes alegrias dessas arquibancadas de cimento carcomido e pintura descascada, ao vencer o GP do Brasil em 2006 e 2008. Portanto, nada como se despedir delas de perto, sem capacete, olho no olho.
Felipe saiu do carro, acenou para a torcida, apareceu uma bandeira brasileira, se enrolou nela e chorou. Foi chorando que passou pelos boxes da Mercedes, e todos os mecânicos saíram de dentro da garagem para aplaudi-lo. O mesmo fizeram os amigos da Ferrari. Em sua direção, Raffaela, a mulher, e Felipinho, o filho, vieram para abraçá-lo e beijá-lo. Massa chorou tudo que tinha direito. A corrida, naqueles poucos minutos, perdeu importância. Era a despedida de alguém que fez deste autódromo uma casa, no começo da carreira, e um palco, no final.
Ternura, carinho, gratidão, amor, tudo isso se misturou nos beijos, abraços, aplausos e lágrimas. Felipe, provavelmente, nunca mais vai correr em Interlagos. Seja qual for seu futuro, ele não passa pelo autódromo paulistano. As categorias que cogita são o WEC, o DTM e a Fórmula E. Nenhuma delas tem o Brasil na rota. O mais provável é que caminhe para os carros elétricos. Interlagos, de novo, só se for de brincadeira, ou convidado para alguma prova nacional.
Felipe ainda tem mais um GP pela frente, mas Interlagos é que teve cara de despedida. A próxima será em Abu Dhabi — distante e fria, sem o calor dos torcedores. Missão cumprida, pois. E se é verdade que sua corrida hoje esteve longe de oferecer alguma perspectiva razoável de bom resultado, não é menos verdade que o destino acabou sendo generoso com o abandono na reta dos boxes. Ninguém gosta de bater o carro. Mas se tiver de acontecer, que seja assim.
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