SÃO PAULO (puxa…) – Já rolava um burburinho, depois veio a notícia de que o contrato não seria renovado, agora chega a informação de que ele será encurtado. E a Malásia realiza pela última vez, neste ano, um GP de F-1. A etapa de 2018, que deveria acontecer como derradeira, já era.
A corrida está marcada para 1º de outubro. Será uma despedida com alguma carga de emoção. Se é verdade que o país nunca teve tradição em automobilismo, não se pode ignorar que Sepang acabou construindo por si uma certa história que não pode ser ignorada. Afinal, a primeira prova lá aconteceu em 1999, e nesta temporada chegar-se-á à sua 19ª edição — isso sim é uma mesóclise bem usada.
A gente vive falando da falta que Portugal faz, por exemplo, e o país sediou 16 GPs, apenas — 13 no Estoril. Na Argentina, foram 20. No México, 17. E são/eram corridas muito tradicionais, que deixaram saudades. Creio que o mesmo ocorrerá com a Malásia.
Sepang foi o primeiro super-autódromo da era Tilke, inaugurado em 1999. Lembro bem quando fui para essa primeira corrida, e a palavra que todos usaram para descrever o circuito foi “impressionante”. A foto que acompanha o post é dessa prova. Foi tirada possivelmente na quinta-feira antes dos treinos, na minha primeira visita à pista — o que explica as calças compridas, trocadas no dia seguinte por bermudas até o fim dos tempos.
De fato era muito impressionante, e ainda é. Gigantesco, luxuoso, moderno, com um traçado mais do que honesto, ao lado do aeroporto de Kuala Lumpur — igualmente monumental –, logo ganharia um trem que ligava o complexo à cidade, estacionamentos enormes, arquibancadas idem, arquitetura ousada… Tudo, realmente, impressionava.
Inclusive o calor. Nunca estive em lugar mais quente e úmido na vida, e isso incomodava um pouco. Especialmente os pilotos, claro, embora os boxes tivessem ar-condicionado. As chuvas de fim de tarde também assustavam. A região é equatorial e as tempestades são comuns nessa latitude.
Vimos grandes provas em Sepang, uma delas a primeira de todas, vencida por Eddie Irvine. O GP marcava a volta de Schumacher às pistas, depois de meses se recuperando do acidente de Silverstone — no qual quebrou a perna. Sua atuação foi soberba. Mas como Eddie lutava pelo título, ele deixou o irlandês ganhar. No fim, perderia o título para Mika Hakkinen, da McLaren.
A Malásia foi também o ponto de partida da migração da F-1 para a Ásia. Depois vieram Bahrein, China, Abu Dhabi, Índia, Fuji, Turquia, Coreia do Sul, Cingapura, Rússia, agora Azerbaijão. Acho que não esqueci nenhuma pista, e incluí alguns países europeus nessa leva por, digamos, “licença geopolítica” — casos de Turquia, Rússia e Azerbaijão, que pertencem ao Velho Continente mas, na prática, estão muito mais para nações asiáticas do ponto de vista geográfico, cultural e político. Muitos desses GPs miaram e alguns autódromos, como o indiano, o turco e o sul-coreano, viraram ruínas.
Eu até que gostava de ir para a Malásia, especialmente porque sempre fazia um pit stop na divertidíssima Tailândia na ida, ou na volta. Mas as temperaturas sufocantes e a distância sempre me incomodaram um pouco. Tanto que eu brincava, quando estava parando de viajar para os GPs, que um dos motivos da decisão de ficar mais por aqui era que para alguns lugares no mundo se vai uma vez na vida e está de bom tamanho — não fazia nenhum sentido ir sete vezes para Kuala Lumpur, como eu já tinha ido.
A corrida colocou o país no mapa da velocidade e Sepang recebeu muitas categorias importantes ao longo desses anos. No caso da F-1, porém, a ausência de público era perceptível naquelas gigantescas tribunas vazias durante os dias de treinos e, também, nos domingos de GP. Por mais que tenham se esforçado, os malaios não conseguiram converter seu povo à causa. Mas sobraram legados, claro, e o mais visível deles, hoje, é a Petronas — principal patrocinadora da campeoníssima Mercedes.
O que vai acontecer com o autódromo agora, não sei. Com a Petronas, também não. Mas a Malásia, apesar da deserção, merece todo o respeito.
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