
RIO (vai dar praia) – Alguém pode ter ficado decepcionado com a falta de combatividade de Hamilton na corrida da madrugada. Logo na quarta volta, depois de partir bem da pole, sem nem ter de se preocupar com o segundo no grid — Raikkonen miseravelmente teve seu carro levado para os boxes e sequer largou –, foi ultrapassado por Verstappinho sem oferecer resistência. A partir daí, sentou-se no segundo lugar e nele ficou até a quadriculada.
Arriscaria dizer que nem mesmo Lewis curte tanta tranquilidade, mas iria fazer o quê? Brigar com Max, que tinha um carro melhor e nada a perder? A troco?
Foi esse o resumo do GP da Malásia, que deu ao jovem holandês a segunda vitória de sua carreira, um dia depois de completar duas décadas de vida. “Não quis correr nenhum risco”, reconheceu o piloto da Mercedes.
É o óbvio ululante. Até o fim do Mundial, ele só tem de se preocupar em chegar na frente de Vettel. E, em Sepang, isso só não aconteceria se fosse abduzido.
Sebastian largou em último, depois de um problema no turbo na classificação igual ao que tirou Kimi da corrida antes mesmo de seu início. Chegaria atrás de qualquer forma, como chegou — apesar de ter feito uma ótima prova e ter saído com a sensação de que não fossem os azares acumulados, poderia vencer a prova.
“Eu ganharia se largasse na frente”, falou Tião Italiano, coberto de razão. Da rabeira, foi escalando o pelotão até terminar em quarto. A ascensão foi rápida até a terceira volta, pulando de 20º para 11º. Aí, empacou atrás de Alonso por algumas voltas, o que lhe atrasou a vida um pouco. Mas a meta era clara e factível: chegar, na pior das hipóteses, em quinto — atrás das duplas de Mercedes e Red Bull. Mais do que isso seria lucro. O pódio, então, um sonho.
Para cumprir seu objetivo, Vettel largou com pneus macios, o que lhe permitiria adiar sua parada abrindo espaço entre aqueles que fariam seus pit stops antes. O plano vinha dando certo e na volta 21 ele já estava em quinto, começando a se aproximar de um apagadíssimo Bottas — que, pelo menos, admitiu que está numa fase ruim, sem confiança. Então, a Ferrari o chamou para os boxes, surpreendendo a Mercedes. Foi na volta 28. Colocou supermacios e voltou para a pista voando. Na seguinte, Valtteri parou. E voltou atrás do alemão.
A partir desse momento, a tarefa de Sebastian se tornaria bem mais difícil. Estava mais de 12s atrás de Ricciardo, o terceiro colocado. Lá na frente, Verstappinho e Comandante Amilton, já com suas paradas realizadas, desfilavam sem maiores problemas, confortavelmente em primeiro e segundo.
A diferença para o australiano começou a cair volta a volta e na 45ª, já na reta final da prova, era de 2s2. Um pódio para o alemão parecia possível, ainda que Ricardão fosse um alvo difícil por sua reconhecida capacidade de defender posição.
O que teve de fazer apenas uma vez, na volta 49, no fim da reta dos boxes. Vettel ciscou pra lá, ciscou pra cá, mas não pasou. A tentativa única tem uma explicação. Num ritmo muito forte para se aproximar da Red Bull, Sebastian detonou seus pneus dianteiros. “Achei que ele iria tentar mais”, surpreendeu-se o rubro-taurino. Mas no fim foi mesmo uma chance única. Não deu, Vettel tirou o pé e preferiu garantir o quarto lugar, que já estava de bom tamanho.

Hamilton ampliou sua vantagem sobre o ferrarista de 28 para 34 pontos, 281 x 247, o que não foi de todo mau para os vermelhos de Maranello depois de tantos problemas inacreditáveis no mesmo fim de semana. Aliás, teve mais um: após a bandeirada, na volta de desaceleração, Stroll conseguiu bater em Vettel e destruiu a traseira de seu carro, no lance mais bizarro do fim de semana.
O adolescente canadense fizera até uma boa corrida, terminando na oitava colocação. Chegou a disputar posição com Massa, e levou — o brasileiro pareceu, mais uma vez, um tanto passivo, e acabou em nono. À frente da dupla da Williams chegou, em sétimo, um dos destaques da corrida, Stoffel Não Doorme, em sétimo. Acreditem ou não, com os pontos marcados em Sepang o belga passou Alonso na classificação.

A chuva, pena, só deu as caras pela manhã. Não foi o bastante para que na hora da largada a pista estivesse molhada. O calorão de 32°C se encarregou de secar o asfalto e foi assim, sem um pingo d’água na corrida, que a Malásia se despediu da F-1. Seus 5.543 m de retas e curvas agora silenciarão por alguns dias. No fim do mês, a MotoGP passa por lá. Em novembro tem os 1.000 Km e, depois, quem corre no circuito malaio é a Superbike. Em dezembro, as 12 Horas de Sepang fecham o calendário de 2017.
No ano que vem, as atividades de todas essas categorias deverão ser mantidas, mas a cereja do bolo, a F-1, não passará mais pelo super-autódromo projetado por Hermann Tilke — o primeiro criado pelo engenheiro e arquiteto alemão, que já fez muita porcaria, mas Sepang não está entre elas.
Domingo tem Suzuka, uma espécie de antítese dos circuitos ultramodernos que Tilke desenhou. Old fashion total, é uma das corridas mais adoradas pelos pilotos e pelas equipes, num país especialíssimo.
Estou com saudades do Japão.
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