Com a alta nos preços dos sedãs médios, Honda City e Toyota Yaris são alternativas mais racionais (e baratas) a Civic e Corolla. Qual o melhor?
Texto: Gustavo de Sá
Fotos: Renan Senra
A discussão sobre os preços de produtos novos no Brasil – automóveis ou de qualquer outra categoria – na comparação com outros países é sempre polêmica. Não iremos entrar neste mérito. Mas o que não se pode negar é que, nos últimos anos, tudo ficou mais caro. Levantamento realizado pela consultoria Jato Dynamics aponta que os preços dos sedãs médios subiram 55,9% nos últimos três anos. Em 2015, o valor médio do segmento era de R$ 65.247. Este ano, o tíquete médio saltou para R$ 101.781. Por outro lado, o poder aquisitivo do consumidor não cresceu na mesma proporção.
De forma prática e resumida, isto quer dizer que muitos compradores de Civic e Corolla de outros tempos agora terão que descer um degrau na hora de trocá-los por um zero-quilômetro sem investir muito dinheiro. E é aí que Honda City e o recém-lançado Toyota Yaris Sedã se encaixam. São sedãs compactos premium de marcas de origem japonesa, com porte, preços e propostas muito semelhantes em motor e câmbio. Por isso, reunimos a dupla para um comparativo a fim de descobrir qual deles irá agradar quem procura comodidade de médio por preço de compacto.
Esta é a segunda geração do City vendida no Brasil (o nome já foi adotado em um hatch da marca em países orientais e em um sedã derivado do Fit de primeira geração). Por aqui, o atual estreou em 2014 e ganhou um discreto facelift em fevereiro deste ano. Já o Yaris chegou ao Brasil em junho, mas é da geração lançada em 2013 na Ásia e que recebeu retoques visuais no ano passado.
Nas medidas externas, o Honda leva vantagem em comprimento (4.455 mm ante 4.425 mm do Yaris) e na distância entre-eixos (2.600 x 2.550), mas perde em largura (1.695 x 1.730) e altura (1.485 x 1.490).
Alinhamos aqui as versões EX (R$ 79.900), do City, e XS (R$ 76.990), do Toyota. Ambas trazem itens esperados para a faixa de preços, como direção com assistência elétrica, ar-condicionado automático com ajuste digital, vidros elétricos do tipo um-toque para subida e descida, faróis de neblina, volante multifuncional em couro, controle de velocidade de cruzeiro e computador de bordo.
O Yaris, porém, vai além do rival e traz lista mais recheada, com controles eletrônicos de estabilidade e tração, assistente de saída em rampas, bancos em couro, retrovisor eletrocrômico, partida do motor por botão, central multimídia com tela tátil de sete polegadas (ante o sistema de som simples com tela de cinco polegadas do Honda), retrovisores rebatíveis eletricamente, luz traseira de neblina e ajuste elétrico de altura dos faróis.
O City defende-se com airbags laterais de tórax, luzes de rodagem diurna e lanternas em LED, rodas de liga leve de maior diâmetro (16 polegadas, ante 15 pol. do concorrente), limpadores de para-brisa sem estrutura metálica (flat-blade) e ajuste de distância do volante.
Se começa a disputa atrás na comparação da lista de equipamentos, o City equilibra o jogo na mecânica. O sedã produzido em Sumaré (SP) traz sob o capô motor 1.5 fl ex de 116 cv de potência a 6.000 rpm e 15,3 kgfm de torque a 4.600 rpm. Já o Yaris traz unidade de mesma cilindrada, que gera 110 cv a 5.600 rpm e 14,9 kgfm a 4.000 rpm. Ambos têm câmbio automático do tipo continuamente variável (CVT) com simulação de sete marchas e opção de trocas manuais.
Na pista de testes, em Limeira (SP), o desempenho foi parelho nas provas de aceleração e retomada. Mesmo com relação peso-potência desfavorável para o Toyota (10,2 kg/cv ante 9,6 kg/cv), ele foi mais rápido no zero a 100 km/h (11s1 x 11s3) e nas provas de 40 a 100 km/h e 80 a 120 km/h, com os tempos de 8s4 e 7s5, respectivamente – o Honda foi mais lento nos mesmos ensaios por 0s8 e 0s1, na ordem.
Na hora de parar, o City foi melhor. Vindo de 100 km/h a zero, ele precisou de 40,4 metros para estancar completamente – o rival parou 1,5 metro depois. Além disso, o Honda também saiu-se bem no teste que avalia a resistência ao superaquecimento dos freios. Em consumo de etanol, o City venceu no ciclo urbano (8,3 km/l ante 7,5 km/l), mas ficou para trás no rodoviário (10,9 km/l ante 11,7 km/l). Na média PECO, venceu por pouco o concorrente (9,5 km/l x 9,4 km/l).
O Honda possui ajuste de suspensão mais firme e que evita a rolagem excessiva da carroceria em curvas. Ainda assim, a absorção de irregularidades é satisfatória (a evolução em relação às batidas secas da antiga geração ao chegar no fim de curso dos amortecedores é perceptível). Já o Yaris tem acerto mais voltado ao conforto, sem que isso signifique menor interação com o motorista. Em ambos, a direção poderia ter assistência mais reduzida em altas velocidades.
Erros e acertos
Na cabine, ambos misturam erros e acertos em relação a projeto e acabamento. O City aposta em ambiente mais monocromático e materiais simples, mas de qualidade. Pontos positivos são as saídas de ar mais elevadas, a maior facilidade para encontrar a posição de dirigir e o sistema de som com oito alto-falantes (que inclui tweeters para os bancos traseiros).
Pontos que podem melhorar são o ajuste do ar-condicionado por comandos táteis (é preciso desviar a atenção do tráfego para mudar qualquer função), o plástico do apoio de braço das portas (que tem textura diferente de todo o restante do interior) e o quadro de instrumentos extremamente simplório (a pequena tela do computador de bordo poderia ser maior e oferecer velocímetro digital, como no Yaris).
Vantagem não aproveitada pelo Honda é o espaço proporcionado pela posição onde fica alojado o tanque de combustível (sob os bancos dianteiros, como no Fit e HR-V, feitos na mesma plataforma). Explico: na geração anterior do sedã, havia um compartimento sob o banco traseiro com capacidade para alguns pequenos objetos. Desde a chegada do modelo 2015, entretanto, este espaço foi fechado, como se ali houvesse o tanque de combustível.
No Toyota, os plásticos no painel que imitam costuras de couro criam boa impressão. O mesmo não pode ser dito dos apliques em preto brilhante na seção central do painel, que arranham com facilidade. Recurso simples e que faz falta no Yaris é o sistema que aciona três vezes as luzes indicadoras de direção ao dar um ligeiro toque na alavanca.
Também decepciona o fato de o volante despencar ao soltar a trava de regulagem de altura. Apesar disso, o rádio que diminui o volume automaticamente ao engatar-se a ré e o ar-condicionado com gradação de temperatura a cada 0,5°C são discretos detalhes que demonstram cuidado com a experiência a bordo. Em ambos, falta iluminação dedicada nos espelhos dos para-sois, melhor acabamento nos trilhos dos bancos (que ficam aparentes) e maior quantidade de entradas USB (há somente uma).
O espaço para os ocupantes é bom nos dois modelos. No Honda, o passageiro dianteiro fica com a perna menos flexionada devido à proximidade do banco ao assoalho. Na parte de trás, há mais espaço para a cabeça – inclusive do terceiro ocupante – e para as pernas. Porém, graças à maior largura do Toyota, o espaço para os ombros nele é melhor do que no rival. O sedã feito em Sorocaba (SP) traz ainda assoalho plano, que facilita a acomodação dos pés.
No porta-malas, o City leva vantagem, com 485 litros de capacidade, contra 473 litros do Yaris. O Honda conta ainda com 51 litros de espaço útil abaixo da tampa do assoalho. Os bancos traseiros podem ser rebatidos em ambos os modelos, mas o sistema do Toyota é mais prático por permitir o acesso ao compartimento de carga por dentro da cabine – no Honda, somente é possível fazer isso com o carro parado, por meio de dois comandos dentro do próprio porta-malas.
Até mesmo na hora de colocar os custos na ponta do lápis os dois sedãs são muito parecidos. Na cotação de seguro pelo padrão CARRO (homem casado, 40 anos, que reside na zona sul de São Paulo, possui garagem com portão e utiliza o carro para lazer), a vantagem é do City por apenas R$ 22,00. Já no custo das três primeiras revisões, o Toyota vence por uma singela diferença de R$ 15,00.
Com desempenho, consumo, dirigibilidade e custos muito semelhantes, a principal diferença aparece justamente na melhor relação custo-benefício oferecida pelo Yaris, que custa menos e traz mais equipamentos que o rival – por quase o mesmo valor de tabela do City EX, é possível levar para a garagem a versão topo de linha (XLS, a R$ 79.990) do rival, que acrescenta teto solar, sensor de chuva, faróis com projetor, lanternas em LED e mais cinco airbags. Desta forma, o Yaris Sedã vence este duelo acirrado ao alcançar 260 pontos na soma das análises técnica e de mercado, ante os 256,5 pontos conquistados pelo City.
Veja a tabela com os números do teste em pista dos sedãs:
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