LECLERC & ERICSSON

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RIO (que insistência…) - A parceria Sauber-Alfa Romeo foi apresentada hoje oficialmente no museu da marca em Arese (norte da Itália) com novidades. Primeiro, a dupla de pilotos para o ano que vem. Como se esperava, o monegasco Charles Leclerc (não tinha um cabeleireiro de novela com nome parecido?), campeão da F-2 e protégé da Ferrari, será um deles. O outro é o sobrevivente Marcus Ericsson, de parcos recursos técnicos e fartos recursos financeiros, que encaminha ao caixa da equipe através de seus patrocinadores suecos. Antonio Giovinazzi, italiano que também vive sob o guarda-chuva de Maranello, será o reserva e terá de esperar mais um pouco.

Quem dançou nessa história toda, como também se imaginava, foi o tedesco Pascal Wehrlein — pupilo da Mercedes. A F-1 meio que acabou para ele, creio, embora seja jovem e talentoso. Por absoluta falta de vagas. Pode ser que os alemães o empreguem como terceiro piloto, só para mantê-lo com carteira assinada. Pode ser, também, que comecem a prepará-lo para ser o representante da marca na Fórmula E, já que os planos de Stuttgart são de estreia entre os elétricos na temporada #5, 2018/2019. Aguardemos.

A verdade é que a Mercedes tinha dois moleques muito bons, Wehrlein e Ocon, e só o segundo emplacou — por mera disposição das peças no tabuleiro, sendo deslocado para a Force India em vez da Sauber, e agarrando a chance com categoria.

A outra novidade foi a nova pintura dos carros, que nas últimas temporadas ostentaram o azul como dominante. Na apresentação do projeto, meteram no palco um carro branco e vermelho com um enorme logotipo da Alfa Romeo na tomada de ar. Ficou bem elegante — o vermelho da Alfa é diferente do vermelho da Ferrari, mas não me peçam para explicar porque não sei –, embora ninguém deva imaginar que este será o layout definitivo. Até começar a temporada 2018, muita água deve rolar por debaixo das pontes ítalo-helvéticas, inclusive para acomodar os patrocinadores de Ericsson, que ajudam a pagar a conta.

A Sauber, assim, passa a ser em definitivo um time B da Ferrari, usando seus motores atualizados (neste ano, a equipe só pôde dispor das unidades de 2016) e servindo como laboratório para formação de pilotos e desenvolvimentos paralelos que possam ser transferidos para a matriz. Um esquema muito parecido com o que a Red Bull utiliza desde a compra da Minardi para transformá-la em Toro Rosso. Numa categoria em que os testes são controladíssimos, ter uma equipe-satélite é de grande utilidade.

Muita gente pergunta se a história de usar o nome Alfa Romeo é apenas marketing, se os motores serão Alfa, se Farina vai ressuscitar, se o arcebispo de Milão vai abençoar os cockpits, se a cobra está engolindo um sarraceno ou dando à luz um homem, o que é verdade e o que é mentira nessa volta da famosa marca do cuore sportivo à principal categoria do automobilismo mundial.

Não há grandes mistérios. A Alfa Romeo, assim como a Ferrari, é uma marca/fábrica que pertence, há séculos, à Fiat. Aliás, a simbiose entre as duas é antiga. Enzo Ferrari começou a vida como piloto da Alfa Romeo. Depois foi criar sua equipe.

Alfa e Ferrari são a mesma coisa, então? Não. Mas por fazerem parte do mesmo grupo, têm estreitas e seculares relações. Técnicas, inclusive, em muitos setores. É óbvio que uma corporação do tamanho da Fiat usa o que tem de melhor para alimentar seus diversos tentáculos, intercambiando engenheiros, tecnologia, peças, desenvolvimento, pessoal técnico e tudo que se puder imaginar em todas as marcas que administra.

Assim, colocar o nome Alfa Romeo no cabeçote de um motor feito pela Ferrari não é nenhuma aberração. Faz muito mais sentido, por exemplo, do que chamar os Renault da Red Bull de TAG Heuer, que é marca de relógio. Anos atrás, quando a Ferrari vendia motores para a Prost (sucessora da Ligier), eles eram rebatizados com o nome de uma marca de computador, Acer. Petronas já foi nome de motor. Playlife e European, também. Vocês são capazes de dizer quais eram esses motores de verdade e quais equipes os aproveitaram para fazer propaganda de alguma coisa? Pesquisem por aí e desfilem sua erudição aqui.

Por fim, é claro que alguns funcionários da Alfa Romeo, que tem vasta tradição em corridas, serão alocados na fábrica da Sauber na Suíça. Ou mesmo pessoal da Ferrari, que terá de ser deslocado para Hinwil para reforçar o time, tirando o cavalinho do peito e colocando no uniforme a serpente que engole gente — o Biscione do emblema, um dos mais belos e clássicos da indústria automobilística mundial.

No fim das contas, é Alfa, sim, pero no mucho ao menos por enquanto — porque a estrutura básica segue sendo a da Sauber, e os motores serão feitos pela Ferrari. Os alfisti chegarão aos poucos e, certamente, vão exibir com orgulho as cores de Milão, a Cruz de São Jorge vermelha sobre o fundo branco, a cobra faminta e toda a gloriosa história da Anonima Lombarda Fabbrica Automobili, fundada em 1910 e controlada a partir de 1916 pelo simpaticíssimo Nicola Romeo — que passou a fabricar bombas, carabinas, baionetas, espoletas, bacamartes e sei lá mais o quê para vender aos aliados na Primeira Guerra; em 1919, com o fim do conflito, voltou a fazer automóveis.

Longa vida à Alfa. E à Sauber, também, porque é uma peça de resistência aos novos tempos, essa equipe.



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