Com potência aumentada, Volkswagen Golf GTI encara a primeira geração com motor turbo do Honda Civic Si. Qual vence?
Texto: Gustavo de Sá
Fotos: Renan Senra
Que Brasil você quer para o futuro? Há alguns meses consecutivos, essa pergunta é feita diariamente pelos apresentadores de telejornais da Rede Globo, com o objetivo de colher opiniões de telespectadores de cada uma das 5.570 cidades brasileiras. A minha resposta para ela seria que todo entusiasta automobilístico pudesse, ao menos uma vez na vida, ter a oportunidade de acelerar dois dos mais emblemáticos esportivos oferecidos no País: Volkswagen Golf GTI e Honda Civic Si.
Brincadeiras à parte, reunimos aqui as versões mais atualizadas dos dois modelos para um duelo. O Honda ganhou recentemente uma geração inteiramente nova, enquanto o Volkswagen estreou em junho um discreto tapa no visual na linha 2018. Afinal, qual irá arrancar o maior sorriso no rosto do dono que tiver cerca de R$ 160 mil para levar um deles para a garagem?
O Si 2018 é a terceira linhagem do esportivo comercializada no Brasil e estreou uma importante novidade mecânica: é a primeira vez na história que o modelo recebe turbo de fábrica nesta versão apimentada. Importado do Canadá, ele manteve a carroceria cupê, que por si (com o perdão do trocadilho) só já confere muita exclusividade ao esportivo. Para-choques com maior entrada de ar, aerofólio, rodas de 18 polegadas e saída de escapamento central ajudam a criar a mágica em torno da sigla Si.
O GTI, por sua vez, tem visual menos chamativo. Na linha 2018, ganhou novos para-choques, faróis e lanternas em LED – as rodas de 18 pol. (opcionais) têm desenho quase idêntico à linha anterior. Quem for detalhista perceberá que o friso vermelho da grade agora adentra os faróis full LED (também pagos à parte) em duas arestas de 100°, além das pinças de freio vermelhas e antena do teto estilo barbatana de tubarão.
Do lado de dentro, os bancos dianteiros do tipo concha do Civic Si saltam aos olhos. Com excelente apoio lateral, eles trazem a sensação de que o motorista veste o carro. Nota 10! Outros indicativos da gama esportiva da Honda aparecem nas costuras vermelhas, iluminação exclusiva no quadro de instrumentos e aplique que simula fibra de carbono no painel. Faltou apenas o logotipo Si na base do volante, detalhe que diferenciava a antiga geração do cupê.
O Volkswagen repete a discrição do lado externo na cabine. Com exceção do exclusivo volante de base achatada com o emblema GTI e costuras vermelhas pela cabine, a sensação é de estar a bordo da configuração Highline. Exclusividade desta versão do Golf é o quadro de instrumentos digital (Active Info Display), com tela de 12,3 pol. de alta resolução.
Os bancos do carro avaliado traziam revestimento em couro – eles vêm em um pacote opcional que contempla ainda ajustes elétricos e as rodas de 18 pol. por R$ 5.900. Melhor seria se eles fossem vendidos separadamente, já que o belo revestimento em tecido xadrez de série é muito mais charmoso.
Por falar em opcionais, eles são o calcanhar-de-aquiles do Volkswagen. Para ter o modelo mais completo possível, como o das fotos, é preciso desembolsar mais R$ 9.200 pelo pacote Premium (que inclui controle de cruzeiro adaptativo, frenagem autônoma de emergência, detector de fadiga do motorista, assistente de farol alto e sistema de estacionamento automático), R$ 4.800 pelo teto solar elétrico e outros R$ 1.750 pela pintura metálica. Total da conta: R$ 165.440 – sem opcionais, parte de R$ 143.790.
Ponto positivo do Honda (e das marcas de origem japonesa em geral) é a oferta de pacote fechado de equipamentos. Por R$ 162.900, o Si traz de série seis airbags, ar-condicionado digital de duas zonas, teto solar elétrico, faróis full LED, partida do motor por botão, retrovisor eletrocrômico, central multimídia com tela de 7 pol. e sistema de som com 10 alto-falantes. A opção de cor metálica ou perolizada no cupê não é cobrada à parte.
O Volkswagen impressiona pela tecnologia embarcada. O controle de cruzeiro adaptativo (ACC) segue a legislação alemã e não deixa o Golf passar outro veículo que esteja mais devagar em rodovias pela faixa da direita – vale lembrar que passar difere de ultrapassar, que é quando há mudança e retorno à faixa de origem. Outro recurso interessante é o desligamento do motor pelo sistema start-stop antes mesmo da parada total no trânsito.
Exclusivos do Honda são o freio de estacionamento eletrônico, retenção automática dos freios em paradas, câmera de ré com três ângulos de visualização e retrovisor direito com câmera acoplada, que replica a imagem na central multimídia ao acionar a luz indicadora de direção.
Em espaço no porta-malas, houve quase um empate técnico: a capacidade é de 338 litros no Golf e 334 l no Honda. Porém, a acomodação é mais fácil no primeiro, já que no Civic as dobradiças da tampa invadem o espaço de bagagem.
Diversão garantida
Mesmo com carrocerias diferentes, Si e GTI têm em comum o mesmo objetivo: divertir quem senta no banco do motorista. E ambos fazem isso muito bem. Além de motor turbo, os dois trazem alterações extensas em suspensão, direção, freios e arquitetura eletrônica.
Derivado da versão Touring, o motor 1.5 turbo do Civic gera 208 cv a 5.700 rpm e 26,5 kgfm entre 2.100 e 5.000 rpm – o ganho foi de 35 cv e 4,1 kgfm sobre o sedã. O câmbio é manual de seis marchas, de engates curtos e bastante justos.
Já o Golf traz sob o capô uma versão atualizada do 2.0 TSI, com 230 cv entre 4.700 e 6.200 rpm (aumento de 10 cv sobre o modelo anterior) e 35,7 kgfm de torque na faixa entre 1.500 e 4.600 rpm. O câmbio continua automatizado de dupla embreagem DSG, com seis marchas.
A Honda sempre ressaltou a ideia de conexão entre homem e máquina na hora de vender o Si. E, acredite, não é papo de marqueteiro. O cupê faz o motorista sentir-se sempre no controle, com feedback instantâneo das condições do piso e sensação de total comando. O ronco encorpado gerado pelo abafador duplo do Si soa como música para os ouvidos.
Ele permite ainda escolher o modo esportivo, que pode ser acionado por meio de um botão no console. Ele reduz a assistência da direção, aumenta a carga dos amortecedores adaptativos e deixa as respostas ao acelerador mais rápidas.
O Golf também conta com modos de condução (Eco, Normal, Sport e Individual), que alteram diversos parâmetros, entre eles direção, câmbio, ar-condicionado e som do motor – a suspensão, entretanto, tem sempre o mesmo acerto. A direção variável é elogiável e contribui para respostas mais ágeis e diretas nas mais diversas situações. Ela exige apenas 2,1 voltas no volante de batente a batente, contra 2,7 voltas das versões convencionais.
Mesmo 50 kg mais pesado, o GTI supera o rival na relação peso-potência: são 5,96 kg/cv no Volkswagen, ante 6,35 kg/cv no Honda. Na pista, o cupê foi de 0 a 100 km/h em 7s6, enquanto o hatch marcou 6s3 na mesma prova. Interessante observar a comparação de ambos modelos em relação a seus antecessores. O GTI de 220 cv foi 0s2 mais lento na mesma prova, enquanto o antigo Si 2.4 aspirado, com 206 cv, registrou os mesmos 7s6 do atual 1.5 turbo.
Nas retomadas, a comparação entre os dois modelos é mais difícil devido à diferença dos tipos de câmbio e padrão dos testes da CARRO. Em modelos com caixa manual, as medições são realizadas em uma determinada marcha para cada passagem, sem que o piloto faça a redução. Já nos automáticos, os tempos são registrados sempre em modo Drive. Desta forma, o câmbio reduz automaticamente as marchas em acelerações com o pedal cravado.
Nas provas de frenagem, ambos registraram excelentes marcas. De 100 km/h até a parada total, foram 36,6 metros percorridos pelo GTI, e 37,1 m pelo Si. Com menor deslocamento volumétrico, o motor 1.5 do Civic garantiu melhores números de consumo, especialmente na cidade. Ele fez a média de 11,7 km/l no circuito urbano, ante 6,5 km/l do Golf. Já no trecho rodoviário, o Si marcou bons 16,2 km/l, enquanto o GTI registrou 14,1 km/l. Vale lembrar que os testes foram feitos com gasolina, já que ambos não são flex.
Civic e Golf têm plano de manutenção com paradas previstas a cada 10 mil quilômetros ou 12 meses. A novidade é que as três primeiras revisões do Volkswagen vêm inclusas no preço de fábrica da linha 2018, o que representa economia de R$ 1.608 na comparação com o modelo 2017.Já as três primeiras paradas do Honda custam R$ 1.380, mesma faixa de preço da versão sedã.
No final das contas, Si e GTI são esportivos deliciosamente divertidos e entregam aquilo que propõem, cada um à sua maneira. A escolha entre um ou outro modelo está intrinsecamente ligada ao desejo do comprador e o uso que fará do carro. O Civic transmite esportividade ao motorista desde a posição de guiar, passando pelas respostas da direção e handling em curvas. E tem a exclusividade da interação gerada pelo câmbio manual, de engates quase que telepáticos.
Já o Golf supera o rival nos números absolutos de potência e torque e no desempenho em pista – ajudado, é claro, pela também ótima caixa DSG. Ele também traz a vantagem da comodidade no uso diário, graças às quatro portas e ao câmbio automatizado. Apesar do preço básico de compra mais baixo, é preciso desembolsar mais R$ 19.900 para o Volkswagen ficar com nível de equipamentos comparável ao do Si. Ainda assim, o GTI entrega o conjunto mais recompensador para aquele Brasil que eu quero.
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