AQUELE JANEIRO DE 2008

Por LUANA MARINO*

Estava no último período da faculdade quando conheci a redação do Grande Prêmio. Perto de encará-lo, na verdade. O ano era 2008, janeiro, e minha única preocupação àquela altura chamava-se monografia. Já sabendo o que estava à minha espera, escolhi um tema que fosse me dar ao menos um pouco de prazer, afinal seriam meses de leitura e mais leitura, pesquisa, entrevistas, noites mal dormidas, mau humor, vida social zero…

Lógico que o tema foi Fórmula 1. Sempre ela, a Fórmula 1, e só quem curte os carrinhos entende o que é sentir o coração bater mais forte na hora que sobe o giro dos motores antes da largada. A paixão me pegou de jeito, tal como ela é, de repente, do nada, sem explicação, quando eu tinha 11 anos. Ninguém na família gostava de corrida. Eu era a pioneira!

Ah, quantas madrugadas, quantas anotações, quantos jornais recortados… Foi no meio destes jornais que conheci o Flavio. Na época, ele ainda escrevia para o Lance!, e passei a acompanhar passo a passo as temporadas da F1 através das palavras escritas por ele. Mais tarde, quando me descobri jornalista, veio a oportunidade de, enfim, conhecer um dos caras que mais admirava na profissão.

Sou uma pessoa de péssima memória, confesso. Mas consigo reviver muitos momentos que me marcaram com riqueza de detalhes, e aquele janeiro de 2008 é um deles. Foi minha primeira viagem para fora do Rio de Janeiro. Eu, estudante de jornalismo, 19 anos e um mundo de sentimentos dentro de mim!

Estava acompanhada da minha mãe, que aproveitou a viagem para rever uma antiga amiga do tempo de escola. Virou imediatamente minha “tia”, e foi assim, acompanhada de mãe e tia emprestada, que cheguei ao conjunto 802 da Avenida Paulista, munida de uma pequena bolsa de pano e um gravador de fita, comprado especialmente para a ocasião.

A atmosfera daquela salinha era especial. Antes de deixar o Grande Prêmio, pensei muitas vezes em me mudar para São Paulo só para estar mais lá, naquela salinha, pois o ambiente me deixava à vontade. Ali eu me sentia uma verdadeira jornalista. Era, de fato, uma redação, e eu sentia falta disso. Sabia, no fundo, que a mudança seria uma decisão que mudaria completamente o rumo da minha vida, e como aquela salinha me tentou a fazer isso!

Saí do Grande Prêmio depois de dois anos de intenso trabalho. Realizei um dos grandes sonhos da minha vida, ir a Interlagos num fim de semana de F1. Fiz amigos que levarei comigo para sempre (Eveeeee!). Cresci profissionalmente, amadureci pessoalmente, vivi intensamente.

Depois da saída, só pensava no dia que voltaria a SP para estar novamente naquela salinha. Ele veio, em dezembro de 2014, a confraternização de fim de ano da turma do GP. Estava bastante ansiosa quando entrei no prédio da Paulista. Quando desci do elevador, confundi o corredor e fui para o outro lado, e fiquei mais nervosa ainda. Até o instante que vi a plaquinha da Agência Warm Up. Aquele janeiro de 2008 voltou com força à minha memória. Respirei fundo e toquei a campainha.

A turma havia mudado um pouco, mas a salinha estava praticamente do mesmo jeito. Digo praticamente porque com certeza algo havia mudado, embora pra mim fosse tudo exatamente como aquele janeiro de 2008. Lembro-me de três coisas que chamaram a minha atenção naquele lugar: o armário com várias miniaturas de carrinhos de Fórmula 1, as credenciais do Flavio penduradas em um quadro e um pequeno aviso colado atrás da porta.

O aviso era aqueles clássicos lembretes, do tipo “já se lembrou de apagar a luz? Já se lembrou de desligar os computadores?”, e por aí a lista seguia. O último item, porém, não sai da minha cabeça: “já se lembrou de agradecer aos céus pelo chefe que tem?”.

Sorri pensando nas inúmeras vezes que fiquei lendo aquela frase e respondendo para mim mesma.

Sempre, Flavio. Sempre.

LUANAMARINO* Lembro quando a Luana Marino chegou à famosa salinha — não lembrava que foi em janeiro, muito menos em 2008. Abri a porta e lá estavam as três: estudante, mãe e tia. “Devem achar que sou perigoso”, foi o que pensei na hora, rindo por dentro. Luana fez uma ótima entrevista. Depois deve ter me mandado a tal monografia. Coloquei a mocinha do Rio no radar. Na primeira chance, contratamos. E, desde então, nunca vimos essa menina sem um sorriso no rosto.



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