
SÃO PAULO (é preciso muita paciência…) – E hoje descobrimos que Valtteri Bottas tem dentes. Sim, dentição completa, como a maioria dos mamíferos e hominídeos que habitam o planeta. O rapaz sorriu!
Sorriu com sua primeira pole, a primeira de um finlandês na F-1 desde 2008 — o último fora Heikki Kovalainen, no GP da Inglaterra daquele ano. Sorriu porque não demorou muito para bater Hamilton, apenas três corridas. Em classificação, claro. E sorriu porque aquele papel de segundo piloto claro, definido, explícito e com firma reconhecida em cartório pode mudar um pouquinho se ele conseguir aquilo que se espera de um pole-position: vitória.
Dia desses escrevi que a Sapattos e Raikkonen as funções de escolta tinham sido estabelecidas cedo demais, depois dos resultados de Melbourne e Xangai. Há uma chance de isso mudar amanhã no Bahrein, ao menos no que diz respeito à Mercedes — Kimi segue lento e desinteressado na Ferrari, que só pode mesmo contar vom Vettel. Não que se espere de Valtteri um rival sanguinário, como foi Rosberguinho. Mas incomodar de vez em quando não custa nada. É bom para ele, é bom para o campeonato.
Explico. Não acho que, ao longo de 20 corridas, Vettel será capaz de, realmente, bater Lewis. No mano a mano, num campeonato longo, Comandante Amilton termina na frente com alguma folga. A Mercedes tem mais carro, é simples. Mas se tiver alguém para espezinhá-lo aqui e ali, ajuda. Sebastian, resumindo, pode ter ganhado hoje um aliado na luta pelo título. Tudo que Bottas for capaz de tirar de Hamilton vai acabar na conta do alemão da Ferrari.
É a impressão que eu tenho, e posso estar errado. Amanhã Hamilton pode ganhar de novo e esqueçam tudo que falei. Além disso, por mais que Sapattos incomode, não creio que isso vá acontecer com grande frequência. Mas sabe como é… Num campeonato desses, que pode ser decidido por poucos pontos, qualquer migalha pode ser importante. Então, Vettel vai torcer muito por ele.
Agora vamos à classificação barenita.
O esfuziante Bottas mereceu a pole. Comemorou com uma alegria contagiante. Meu cachorro mal levantou os olhos para ver o que estava acontecendo na TV. Se disse “u-hu” pelo rádio, não ouvimos. E se alguém ouviu alguma coisa parecida, não se iluda. “U-hu” possivelmente quer dizer “valeu” em finlandês.
É o jeitão desses caras, e acho um barato. Para se ter uma ideia, o finlandês mais animadinho que a F-1 teve foi Hakkinen — que nunca deve ter conseguido contar uma piada direito na vida.
Bottas tornou-se o 98º piloto a conseguir uma pole-position na história. Para isso, fez duas ótimas voltas no Q3, forçando Hamilton a gastar a sobrinha que sempre parece ter dentro do carro. Na primeira tentativa, 1min28s844 — já superando a pole de 2016, 1min29s493 de Hamilton, pela primeira vez no fim de semana; os tempos no Bahrein não caíram tanto assim com o novo regulamento.
Lewis foi à luta e baixou o tempo do companheiro em 0s052. Um pelinho. Valtteri não desanimou, voltou à pista e cravou 1min28s769, 0s023 mais rápido que o parceiro. E o inglês, na segunda tentativa, não melhorou e estacionou onde estava, na segunda colocação. Foi o fim de uma sequência de Hamilton que já enfileirava seis poles. Ele sonhava bater esse recorde de poles consecutivas, que pertence ao seu ídolo Ayrton Senna — oito entre 1988 e 1989. Ficou para outro dia, quem sabe para outra vida. É uma marca difícil, que está perto de completar três décadas.

Vettel terminou em terceiro, a 0s478 de Sapattos. Foi a maior diferença da Ferrari para a Mercedes em grid no ano. “Não esperava tanto”, falou Tião Italiano, meio decepcionado. “Na última tentativa forcei um pouco demais, não tinha muito a perder, mas não deu certo.” O quarto colocado acabou sendo Ricardão, recuperando um pouco da autoestima depois da lavada que levou de Verstappinho na China. Raikkonen ficou em quinto, com Max logo atrás.
E o sétimo no grid foi a surpresa do dia no segundo escalão: Hülkenberg, no amarelão francês. É um ótimo piloto, esse moço. E o conjunto carro-motor da Renault, vimos falando isso há algumas semanas, é outro papo em relação ao que era no ano passado. O que sobrou de ruim de 2016, na equipe, foi Palmer. Que, mesmo assim, passou ao Q3 e larga em décimo. Antes dele, Massacrado, oitavo no grid, e Grojã, nono — que cantou “parabéns pra você” para ele mesmo pelo rádio quando passou para o Q2, já que faz aniversário segunda-feira.
Como vocês devem ter notado, comecei pelo fim. Então vamos ao começo.
A classificação noturna no deserto de Sakhir começou com céu claro e temperaturas altas. Os termômetros marcavam 29 graus do Celso no ambiente, com 31 no asfalto — sem sol, a pista fica relativamente fria. Hamilton terminou o Q1 em primeiro lugar e foram expelidos, pela ordem, Sainz Idade, Não Doorme, Maria do Bairro, Sonyericsson e Magnólia Arrependida.
Muitas decepções, a começar pela Toro Rosso do espanhol, que teve um problema mecânico, por Pérez, que viu Ocon passar em 13º, pelo sueco da Sauber, que viu o recuperado Wehrlein pular para o Q2 em 14º, e Magnussen, na rabeira, enquanto Grosjean levava a Haas ao 11º lugar.
No Q2, Hamilton ficou na frente de novo, com Bottas a 0s020 dando o recado de que as coisas seriam difíceis logo mais. Foram limados nessa parte do treino, pela ordem, K-Vyado, Is Troll, Wê Lá Hein?, Locon e o pobre Alonso, El Fodón de la Explosión, cujo motor foi para os ares, terá de ser trocado e ele vai despencar no grid. Deu para fazer leitura labial quando saiu do carro. “Chega logo, fim de maio”, foi o que disse.
As corridas no Bahrein têm sido boas desde 2014. Bons duelos, boas disputas, boas ultrapassagens, boa comida, boa bebida, boa música. Acho que será de novo, porque pela primeira vez teremos a nova dupla da Mercedes medindo forças. Sabíamos o que Rosberg era capaz de fazer contra Hamilton. Como será com Bottas? Um pouco atrás, Vettel vai buscar tirar proveito de uma eventual disputa interna entre os prateados. Logo depois vêm o machucado Ricciardo e o sempre empolgante Verstappen.
Eu queria mesmo era ser o Kimi, para ver essa brincadeira de camarote, ali por perto, sem incomodar ninguém.

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