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Pregar no deserto [Alta Roda]


Fotos | Latin NCAP – Flickr 
De fato é uma pena o Programa de Avaliação de Veículos Novos para a América Latina e o Caribe (conhecido pela sigla Latin NCAP) insistir em distorções e “condenações” injustificáveis. Apesar de apoiado por ONGs internacionais e de fundação de filantropia como a Bloomberg, falta às vezes certo grau de seriedade. Na realidade sempre fica uma pergunta sem resposta: o que o consumidor brasileiro tem a ver se na Colômbia ou no México os respectivos mercados locais compram um determinado modelo sem os mesmos equipamentos de segurança oferecidos de série no Brasil?
O voluntarismo frequentemente irresponsável do Latin NCAP vem de sua origem europeia. Lá existe um bloco econômico e político de 28 países com livre circulação de carros e pessoas. Querem porque querem repetir aqui o que aconteceu lá, sem avaliar implicações econômicas e técnicas. São realidades bastante diferentes. Quando o Latin NCAP começou a atuar em 2010 já existia lei no Brasil que obrigava a adoção de bolsas de ar em todos os veículos em 2014. A entidade achava possível abreviar a exigência com seus testes de colisão filmados e, claro, foi ignorada.
Basta ver exemplos nos EUA. Em 2014 concedeu-se prazo de quatro anos para obrigatoriedade de câmera de ré em razão de veículos de maior porte daquele mercado. Esse país também tornou compulsório, antes da União Europeia, o controle eletrônico de estabilidade (ESC, em inglês). E acaba de anunciar um grande acordo entre o órgão de segurança viária oficial, a entidade lobista das seguradoras e 22 fabricantes (representam quase 100% das vendas) para introduzir em 2022 o dispositivo de frenagem automática de emergência até 30 km/h.

Vários modelos europeus, até subcompactos, e mesmo americanos já trazem esse dispositivo de série. No entanto, se não houvesse essa adesão voluntária, a obrigatoriedade por lei, nos EUA, só ocorreria em 2025. Isso não inclui a frenagem antiatropelamento por sua complexidade e custo elevado. Então o Latin NCAP deveria parar de pregar no deserto e assumir pragmatismo.
Em 2015 o Brasil exigiu o ESC nos projetos novos a partir de 2018 e, em 2022, para todos os modelos à venda. Está na lei e não mudará. A entidade tem direito de exigi-lo para um veículo receber as cinco estrelas máximas em seus atuais protocolos. Mas daí a retirar uma provável nota máxima da nova picape Ranger, por exemplo, rebaixando-a de cinco para três estrelas só porque em outros países da região o sistema ESC não é previsto em lei ou os compradores não estejam dispostos a pagar por ele, realmente perde qualquer sentido.
Também se um modelo chinês, importado por qualquer país sul-americano, só alcança zero-estrela no teste de colisão também gera interesse zero para o comprador brasileiro. Perda de tempo.
A Proteste, parceira brasileira do Latin NCAP, afirma que o ESC acrescentaria “apenas R$ 180,00” a um veículo. Mas preço de custo não se confunde com o de venda, além de tempo e dinheiro para testes longos e homologações para cada modelo. Ou seja, dar palpite ou jogar para plateia leiga sobre assuntos técnicos abala mesmo qualquer credibilidade que se queira conquistar.

RODA VIVA

ENGENHEIRO Antônio Megale, novo presidente da Anfavea para o período 2016-2019, afirma não conhecer o destino do programa Inovar-Auto que termina em 2017 e nem quais marcas vão se habilitar este ano para superar o limite compulsório de eficiência energética. Cita como mais importantes estímulos aos centros de pesquisa no País e redução de consumo.
TOYOTA, mesmo sem mudar externamente o Etios 2017 (apenas novas rodas de liga leve), decidiu apostar na evolução mecânica. Motores de 1,3 L e 1,5 L, agora fabricados no Brasil, ganharam maior taxa de compressão (13:1), outros aperfeiçoamentos e mais potência: 98 cv e 107 cv (etanol), respectivamente. Estreiam câmbios automático (4 marchas) e manual (6 marchas).

MUDANÇA do quadro de instrumentos melhorou sua visibilidade e o isolamento acústico é superior, em uma primeira avaliação. Fábrica afirma que efetuou mais de 600 mudanças no Etios desde o lançamento em 2012 e oferece o modelo compacto automático mais barato do mercado: R$ 47.490. Preços vão de R$ 43.990 (1,3 L, manual) a R$ 60.295 (1,5 L, automático).
BRASIL volta a exportar automóveis para os EUA. Embora seja operação específica de 10.000 BMW X1 até o final do ano para atender à procura aquecida deste modelo que a Alemanha não pode atender, tem significado importante para a fábrica catarinense do grupo em termos de imagem e qualidade. Desvalorização do real frente ao dólar, claro, deu ajuda de peso.
ESTUDO do Sindipeças sobre a frota brasileira de veículos (cerca de 42 milhões, sem incluir motocicletas) indica que a idade média voltou a envelhecer em 2015, depois de atingir 8,5 anos em 2012. A tendência é voltar ao patamar de 10 anos no final de 2016, o que torna ainda mais urgente a necessidade da inspeção técnica em automóveis com quatro ou mais anos de uso.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).

Latin NCAP analisa Chevrolet Sail, Ford Ranger e Toyota SW4

O Latin NCAP apresenta os resultados de mais três automóveis comercializados na América do Sul: Ford Ranger, Chevrolet Sail e Toyota SW4 (conhecida como Fortuner em alguns mercados). Equivalente ao Classic em alguns mercados, a unidade do Sail testada pelo Latin NCAP foi produzida na China e montada na Colômbia. Sem airbags, o modelo obteve zero estrela na proteção do ocupante adulto e duas estrelas em relação à proteção do ocupante infantil.

A estrutura do sedan foi classificada como instável, não sendo capaz de suportar impactos maiores. O motorista pode sofrer lesões fatais na cabeça e no peito. No caso do passageiro, o tórax mostrou compressão próxima do limite permitido. O impacto lateral não chegou a ser realizado, com o fraco resultado do crash-test frontal. E mesmo com ancoragens ISOFIX para cadeirinhas infantis, o Sail não conta com cintos de três pontos em todas as posições. As instruções insuficientes e as falhas de instalação das cadeirinhas também fizeram com que o Sail perdesse pontos.

Já a Ford Ranger, recém-apresentada ao mercado brasileiro e produzida na Argentina, alcançou três estrelas de proteção a adultos e quatro estrelas em relação a crianças. Submetida a crash-tests frontais e laterais, em ambos os casos a picape ofereceu boa proteção para os ocupantes, dispondo de fixação ISOFIX, cintos de três pontos para os 5 ocupantes e a possibilidade de desativar o airbag do passageiro dianteiro. Porém, a Ranger testada não conta com controle eletrônico de estabilidade nem airbags laterais ou de cortina como equipamentos de série na Argentina, exigidos como requisito pelo Latin NCAP a partir deste ano, quando os critérios passaram a ser mais rigorosos. O teste de colisão contra poste não foi feito.

Já a Toyota SW4 foi avaliada em um teste de auditoria para comprovar se o SUV oferece os mesmos níveis de proteção que a Hilux – e o Latin NCAP comprovou a consistência sólida da proteção proporcionada pelo utilitário, tendo obtido melhor desempenho em alguns aspectos biomecânicos. Assim, o Latin NCAP estende a classificação de estrelas obtidas pela Hilux à SW4 – ou seja, 5 estrelas de proteção para adultos e crianças.

Pontuações

Ford Ranger
30,62 de 34 pontos possíveis de proteção a adultos
40,17 de 49 pontos possíveis de proteção a crianças

Chevrolet Sail
0 de 34 pontos possíveis de proteção a adultos
23,21 de 49 pontos possíveis de proteção a crianças

Toyota SW4
Sem pontuação registrada

María Fernanda Rodríguez, Presidente do Latin NCAP, declarou: “Fico surpresa com o fato de continuarmos a ver modelos zero estrela por parte da Chevrolet no mercado latino-americano. Enquanto outros fabricantes mostram uma melhora no transcurso dos últimos cinco anos, os modelos da GM continuam a decepcionar. O Latin NCAP se comprometeu a ter veículos mais seguros na América Latina e vamos continuar a fazê-lo, informando os consumidores e assinalando as carências da GM, bem como de outros fabricantes de automóveis, até que haja uma alteração”.

Alejandro Furas, Secretário Geral do Latin NCAP, disse: “O Latin NCAP está preocupado pelos baixos níveis de segurança oferecidos pelos modelos da Chevrolet testados pelo Latin NCAP ao longo dos cinco anos do programa. Especialmente porque a Chevrolet proporciona bons níveis de segurança por preços acessíveis em outros mercados. O Latin NCAP se preocupou ainda mais depois dos últimos depoimentos de Mary Barra da GM em Davos, em que se negava a comprometer-se a providenciar airbags como equipamento padrão para os consumidores latino-americanos. O Latin NCAP solicita veementemente à Chevrolet para ela acompanhar o exemplo da Honda, da Toyota ou da VW, que oferecem níveis de segurança por cima dos requisitos mínimos governamentais na América Latina. Como líderes do mercado, a GM deveria fazer a mesma coisa “.
O Latin NCAP divulgará os próximos resultados de testes de colisão no mês de junho. Em 2016, os requisitos são mais exigentes: carros quatro e cinco estrelas precisam contar com controle eletrônico de estabilidade, e os modelos cinco estrelas serão os que demostram um bom desempenho em impactos frontais, laterais, contra poste e com aprovação nos testes do controle de estabilidade. Os carros que tirarem zero estrela em um dos dois testes de impacto frontal ou lateral terão um resultado total de zero estrela. O impacto lateral conta, também agora, com cadeirinhas e dois dummies infantis (como no teste de impacto frontal).
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